"Guarda-Chuva", para simplificar, podia muito bem ser o nome de cisterna - sopa de fonemas que não remete à idéia de "guardar água", que o guarda-chuva sugere, mas não faz. Pela imagem, o que me vêm à mente é a figura do tio Zé Silvestre ("Siliveste", em nordestinês do Agreste Meridional de Pernambuco), o mais alto, mais cheiroso e elegante da família, dono de uma técnica única de dançar um forró metido a valsa, sem suor nem remelexo de quadris, evoluindo com a dama como quem desliza ou voa... Nunca andava sem um guarda-chuva, daqueles pretos, enormes e empertigados, para proteger das raras trovoadas daquelas paragens.
Por outras paragens, guarda-chuva é só arremedo de sombra sob o qual se abriga qualquer vivente, tema ou causa - inclusive o "Sentidos Simultâneos" que, por 12 meses e um tanto, deu guarida a um grupo que se queria bem e hoje se quer ainda mais, pela cumplicidade de compartilhar criações, no método das emboladas: um diz o mote e os demais versejam visualidades poéticas brotadas daquelas sementes.
Infinito por forma e natureza, o tempo da construção coletiva não começa nem termina nos oito que deram existência ao "Sentido Simultâneo" que, doravante, é livro impresso, sempre disponível a leituras, releituras e palimpsestas reescrivinhações. Nem bem fechou a temporada, já foi mote para outros laboratórios de intervenções da rede que cria vínculos e grava percursos de gentes que curtem brincar de fazer de guarda-chuva, sombrinhas, bengalas, cenários, imagens, poemas e um sem-fim de coisas. E da vida também.
Por Walderes Brito
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