Primeira Pessoa


Por Rosi Martins

Do Caso Reto

O concreto molhado,
E o céu desgraçadamente cinza.
Uma janela que me separa do mundo,
Seu vidro imundo
Do lado de fora.

Do lado de dentro,
Outra metade.
Um apartheid?
O mundo bem maior em mim:
Mais limpo.

Por Cristiano Casado

Autoretrato em dó maior

"Exercício de auto-estranhamento, para sentimentos e olhos graves, em dois movimentos e múltiplos acordes - primeira série"


Por Cristian Mossi

EU 3X4 - Modelo 1974

Manual de Instruções

1. Não compatível com operações matemáticas.
2. Menu de idiomas: Português, Inglês. Versão beta (em testes) contará também com menu em Espanhol.
3. Movido a música e cinema. Coloque algum CD ou DVD para melhor funcionamento.
4. Funciona melhor em ambiente refrigerado.
5. Pode travar em situações como pagar contas ou falar ao telefone com horário pra terminar. Caso aconteça, dê um copo de água com gás ou um chocolate (dependendo do nível de dificuldade da operação) e reinicie a operação quantas vezes for necessária.
6. Caso apresente problemas de comunicação devido a fatores externos - como gagueira e silêncio generalizado - recomenda-se o uso de supérfluos perecíveis, desenhos (ou similar) e alguma paciência. Passa logo.

Por Wolney Fernandes

(m)EUCORPO

Por Odailso Berté

Profissão de fé de um quase-ateu

Creio no amor que é tudo e não pode coisa alguma,
criador de céus e de infernos,
e em Jesus de Nazaré, Gregório de Matos, Zumbi dos Palmares, Olga Benário, Hélder Câmara, Tereza de Calcutá, Harvey Milk, Hannah Arendt, Dorival Caymmi...
um sem número de filhos e filhas desse mesmo amor,
nossos irmãos e irmãs em prazeres e agonias,
concebidos pelo poder do acaso,
forjados mulheres e homens pelas agruras e sabores da vida.

Essa gente nasceu de mulheres admiráveis e condenadas ao anonimato
e padeceu sob dominadores de todos os tipos.
Crucificados, mortos e sepultados
desceram à mansão dos mortos
mas ressuscitaram e vivem em nós.
E, então, não precisam mais subir nem descer à lugar algum
nem sentar à direita ou à esquerda de nenhum todo poderoso
donde jamais virão a julgar os vivos nem os mortos.

Creio no amor e na justiça
na mobilização social e no bem-querer
na comunhão das pessoas que querem construir o bem
no perdão de erros e deslizes
na ressurreição
na vida efêmera
Amém!


Por Walderes Brito

Caleidoscópica

Por Laila Loddi

Eu, só teu!

Ao te ver assim
Deitada de ti e inundada de mim
Festejo um encontro de almas.

Na calma da cama em chamas,
Me amas.

E eu completo, satisfeito
Adormeço orvalhado
Para acordar sereno.

Por Adriano Antunes

Estreia

No meu jogo de cena
Aposto em qualquer lado
Pois nos meus dados
Todos os lados são iguais.

Encarno Macbeth por um minuto
Otelo, no outro, absoluto
Para delírio dos mortais.

Recito meias verdades
Disparates de vaidade
Sou ator sem luz, sem trilha, sem direção.

E nesse teatro vazio
De camarim sem estrela
Minha roupa de Julieta
Amarelou, rasgou, puiu.

(...)

E assim tem sido até o próximo ato.


Por Adriano Antunes

Boas novas amarelas

Por Odailso Berté

Das novidades cotidianas

Tem dias que é bom acordar e perceber que toda a sua rotina parece tão divertida, tão linda, tão nova que você acha que nunca viveu aqueles fatos de todo dia.

Aí você coloca aquele CD que comprou em 1999 e pagou uma fortuna por ele na época. E ouvindo aquela trilha, pensa: "É a música perfeita para mim". Você se identifica com a letra enquanto a música ressoa nova a seus ouvidos. É naquele instante que pensamentos de felicidade vestem teu corpo cansado. E nem pára pra pensar nos problemas que passa ou que passou. Aliás, você se convence de que nunca passou por momentos ruins e difíceis. E o sublime se resume naquela novidade já conhecida.

Seus lábios sussurram uma prece em duas notas musicais para que o momento nunca passe.
E vai ser assim... pelo menos até a música acabar.


Por Wolney Fernandes

Novo Tempo

Das novidades de um novo tempo que chega quietinho, com cheiro de rosas e promessas de novas/velhas felicidades...
E me ensina que o futuro será sempre o presente que está escondidinho em nossas verdades.


Por Cristian Mossi

Mago Virtual

Jogo uma partidinha de cartas virtuais quando tenho um enigma que já está em cólicas de parto pra ser desvendado. (Tenho uns cinco simultâneos, agora). Escolho sempre FreeCell, porque sempre quero respostas afirmativas para os meus dilemas e, segundo as regras que defini para o meu jogo, uma vitória significa "sim"... Às vezes me esqueço e clico no "Paciência Spider" que sempre me fode com um retumbante "não".

Essas fraudezinhas não afetam a seriedade com que me lanço a esses búzios de araque. E, pelo resultado da partida de há pouco, vou passar para a próxima etapa da seleção para professores da Faculdade de Educação da UFG e meu projeto vai ser aceito no doutorado em comunicação da UFMG de uma tacada só - é mole?

Sobre esses concursos, digo pra todo mundo que estou contente de ter conseguido concluir o projeto a tempo de me inscrever, que essa participação é só uma etapa no meu processo até conseguir ser aprovado daqui a alguns anos e blá-blá-blá... (Outra fraudezinha). De verdade estou doido para que dois milagres aconteçam e que eu consiga virar, a um só tempo, professor de "Comunicação, mídia e educação" e aluno do doutorado da terceira melhor universidade do país.

Enfim: sinto que terei muitas partidinhas de FreeCell até a virada do mês.


Por Walderes Brito

Vicissitude

Por Cristiano Casado

Reflexo do tempo

Por Laila Loddi

"Revés de um parto" *

Por Rosi Martins

(*) Da música de Chico Buarque

Reflexo

Por Wolney Fernandes

Riquezas Abominavelmente Descartáveis

Por Cristiano Casado

Imortal

Eleito para a Academia Alagoana de Letras sem nenhuma obra que preste.
Por Walderes Brito

Gregor Samsa e os Inimigos do Rei


Por Laila Loddi

TEMGENTEASSIM

Por Odailso Berté

Detalhe da obra de Dirce Pippi

A abominável mulher Tereza Bicuda dos cerrados

Por Rosi Martins

Ilustração de Ciça Fittipaldi

Em espera

Do eu-outro

Por Cristian Mossi