Buraco do Tatu

Esse era o nome do lugar mais misterioso e proscrito da, agora, sesquicentenária São Bento do Una, minha cidade de origem. O motivo era óbvio: Buraco do Tatu era o lugar dos cabarés para onde os homens da cidade escapuliam no breu da noite e onde as quengas se escondiam durante o dia, em casebres de taipa sem reboco, no caminho do esgoto que escorria de toda a Avenida Manoel Cândido e da Rua Cira Mota, vindos tanto do nascer quanto do pôr-do-sol. Quem estudava no Colégio Estadual precisava dar uma volta quase lá pela Cilpe ou pela rua do Armazém dos Cadetes só para não cruzar nenhum dos proibidíssimos becos do Buraco do Tatu. Menina, então, dependendo da piedade cristã da família, não podia nem pronunciar o nome... Meninos ficavam na dúvida, alguns ansiosos outros aflitos, se o pai um dia ia arrastá-lo pra lá, como quem atravessa o portal de acesso ao universo dos machos. Isso durou mais de dois terços dos 150 anos de São Bento, até que um prefeito messiânico com nome composto resolveu “cristianizar” a cidade, tirando as putas para um canto afastado e transformando o lendário Buraco do Tatu numa insossa Rua da Alegria, que tá lá até hoje. Quem sabe, porém, que por baixo dessa Alegria jaze um Buraco do Tatu ainda passa cabreiro por aquelas imediações.

Por Walderes Brito

Adereço pra ser usado em uma ocasião de grande dor

Por Rosi Martins

Câmbio

Por Cristian Mossi

No Buraco da Fechadura

[o olho no buraco é tão culpado quanto quem pratica o ato]

Falo dessa chaga
que o povo gosta
dessa praga exposta
da violência e culto ao corpo
que a educação, coitada, não trava
e por efeito oposto
vaga cadeira na fileira
da coerência e do bom gosto.
O povo gosta
e isso não me admira
da rotina alienada
que contamina a retina
promovendo o fútil
eliminando o útil
distorcendo a razão.
Porque o povo gosta
da lama na qual se afunda
da bunda que rebola
da mão que pede esmola
do dedo no gatilho
da arma que atira
e do corpo que apodrece
no meio-fio do dia.
O povo gosta e se entorpece
dos valores e princípios esquece
mais vale ser esperto, é certo,
pois inteligência exige esforço.
O Povo gosta
de lamentar as feridas
que suas mãos manchadas, dedicadas,
esculpiram para si.
Ah! Esse povo gosta!
E nessa ronda desesperada
dou gargalhadas de tristeza
por capricho da natureza
não descarto o fato
de um dia ter sido assim.

Por Adriano Antunes