Embaixo da cama: canto eleito para guardá-la por ser o mais privado possível, ali pelos oito ou nove anos. Ela veio de São Paulo, cheia de roupas usadas, mandadas pelos parentes de lá, no retorno de uma viagem de mamãe que, até hoje, não consigo dizer porque teria sido feita exatamente naquela época. Nem antes nem depois. Após o rateio dos regalos de segunda, festejados como se de primeiríssima fossem, a mala verde foi o que me coube, por recíproca eleição, começando ali uma longa relação de mistérios e cumplicidades.
Desde então, arrastei essa mala para debaixo da minha cama por três ou quatro casas para as quais nos mudamos, através da minha infância-puberdade-
Entre outras relíquias, que eu julgava invioladas, embora a mala não tivesse chave, uma “milhaeira” de cerâmica em forma e cor de moranga, onde eu guardava minhas moedas e que, soube muito mais tarde, era o mesmo lugar de onde Vanuzia e Amanda, minha irmã e prima quase gêmeas, com uma faca de mesa e muita habilidade, tiravam toda tarde, no meu horário de aula, o soldo para financiar esbórnias de picolés e pipocas com textura de isopor, disponíveis na banca do seu Babá.
Esta, porém, já é outra história, ainda sem suficiente acerto de contas...
Por Walderes Brito
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