Chagas Marinhas

Por Odailso Berté

Foto: Francisco Pedro / Projeto Lixo Marinho - Global Garbage Brasil
Imagem capturada em:
http://www.globalgarbage.org/blog/index.php/2010/03/05/o-fundo-da-folia/

"Oferece a outra face, mas não esquece o que lhe fazem..."

"Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!"

(Trecho de "Versos Íntimos", de Augusto dos Anjos)

Por Cristiano Casado

Imagem: "Christ of Saint Jonh of the Cross", de Salvador Dalí

Dores Impressas

Não muito longe estão os pensamentos daquele garoto indefeso, ingênuo, que tentava se proteger do mundo sendo o filho exemplar, o garoto estudioso, o menino que nasceu pra ser padre. Adolescente com grandes olhos que percorriam terreiros, estradas, rodapés... e nunca os horizontes. Roupas engomadas, sem cor. Aquela forma de sentar com as mãos cruzadas sobre as pernas e costas arqueadas.

Aquele que se escondia na alegria dos desenhos riscados em troca de amizades de recreio. O garoto desengonçado, cabeça grande e meio gago, que crescia no banco da igreja lendo histórias em quadrinhos.

Os sonhos porém eram muito vivos, de um brilho profundo que refletiam misteriosas ondas de inquietação que se podia sentir à distância. Alegria, confusão, tristeza e medo, tudo era possível sentir nas marés daquele olhar solitário que teimava em ignorar as dores sentidas pelas chagas que sulcavam seu corpo que, até então, era só alma.

Vontades introvertidas de voar de cima do pé do Flamboyant para alcançar os espaços, as vontades do corpo e liberdades que lhe eram negadas. Flutuar por sobre as dores impressas, acenando para a própria imagem refletida nelas.

Por Wolney Fernandes

É bem real

Pulga atrás da orelha; cheiro de gaveta de avó; apenas uma, entre dezenas de surras de infância remota; a certeza de que, cedo ou tarde, o computador vai comer um trabalho que você suou para fazer, acompanhada da sensação de que não fará outro bom quanto o que perdeu. Dúvida sobre as escolhas feitas; dúvidas sobre o que fazer agora; dúvidas sobre amanhã; coceira debaixo da pele; ferozes debates fantasiados em resposta a desaforos que ouviu e que não conseguiu responder na lalta, fervidos no ódio mortal e justificado da leseira do próprio cérebro. Água ja entornada em garganta seca; o arredondado do céu; cenas de uma história, até que a narrativa seja aprisionada em uma imagem fixa ou móvel e bem descrita - nanismo das visualidades imaginárias.

Por Walderes Brito

Sem Título

Por Laila Loddi

Sentidos para olho vibrátil

Por Rosi Martins

Imagem de Roberto Azeredo - técnica mista

Visibilidade limitada

* Messier 104 também conhecida como Galáxia de Sombrero ou ainda por NGC4594 é uma galáxia distante 28 milhões de anos luz de nós. O objeto está localizado na constelação da Virgem.

Por Adriano Antunes

Abaixo a vista grossa

Sou gordinha, sou negra, sou preciosa.
Porque destoo dos padrões
Por vezes me fazem invisível.
Mas a diferença que modela este corpo
É tão viva, voraz e visível
Que transpõe os olhares opacos
Do cego mais insensível.

Por Odailso Berté

Foto de Otávio Neves Cardoso do Monumento "As Gordinhas" (Ondina, Salvador-BA)
Imagem capturada em http://www.panoramio.com/photo/1178440

Tratado sobre o intangível

Por Cristian Mossi