Não muito longe estão os pensamentos daquele garoto indefeso, ingênuo, que tentava se proteger do mundo sendo o filho exemplar, o garoto estudioso, o menino que nasceu pra ser padre. Adolescente com grandes olhos que percorriam terreiros, estradas, rodapés... e nunca os horizontes. Roupas engomadas, sem cor. Aquela forma de sentar com as mãos cruzadas sobre as pernas e costas arqueadas.
Aquele que se escondia na alegria dos desenhos riscados em troca de amizades de recreio. O garoto desengonçado, cabeça grande e meio gago, que crescia no banco da igreja lendo histórias em quadrinhos.
Os sonhos porém eram muito vivos, de um brilho profundo que refletiam misteriosas ondas de inquietação que se podia sentir à distância. Alegria, confusão, tristeza e medo, tudo era possível sentir nas marés daquele olhar solitário que teimava em ignorar as dores sentidas pelas chagas que sulcavam seu corpo que, até então, era só alma.
Vontades introvertidas de voar de cima do pé do Flamboyant para alcançar os espaços, as vontades do corpo e liberdades que lhe eram negadas. Flutuar por sobre as dores impressas, acenando para a própria imagem refletida nelas.
Por Wolney Fernandes