Profusão de Saberes

Por Walderes Brito

"O sobrado de mamãe é debaixo d'água"*

Por Rosi Martins

(*) Da música de Maria Bethânia

Corprofusion



Por Odailso Berté

Gêmeos

Por Wolney Fernandes

Parte da Cogitação Profusa

sou eu, dividido em MUITOS outros; sou eu, cogitado a ser o mesmo
sou eu, dividido em MUITOS outros; sou eu, cogitado a ser o mesmo
sou eu, dividido em MUITOS outros; sou eu, cogitado a ser o mesmo
sou eu, dividido em MUITOS outros; sou eu, cogitado a ser o mesmo
sou eu, dividido em MUITOS outros; sou eu, cogitado a ser o mesmo
sou eu, dividido em MUITOS outros; sou eu, cogitado a ser o mesmo
sou eu, dividido em MUITOS outros; sou eu, cogitado a ser o mesmo
sou eu, dividido em MUITOS outros; sou eu, cogitado a ser o mesmo
sou eu, dividido em MUITOS outros; sou eu, cogitado a ser o mesmo
sou eu, dividido em MUITOS outros; sou eu, cogitado a ser o mesmo
sou eu, dividido em MUITOS outros; sou eu, cogitado a ser o mesmo
sou eu, dividido em MUITOS outros; sou eu, cogitado a ser o mesmo
sou eu, dividido em MUITOS outros; sou eu, cogitado a ser o mesmo
sou eu, dividido em MUITOS outros; sou eu, cogitado a ser o mesmo
sou eu, dividido em MUITOS outros; sou eu, cogitado a ser o mesmo
sou eu, dividido em MUITOS outros; sou eu, cogitado a ser o mesmo
sou eu, dividido em MUITOS outros; sou eu, cogitado a ser o mesmo
sou eu, dividido em MUITOS outros; sou eu, cogitado a ser o mesmo
sou eu, dividido em MUITOS outros; sou eu, cogitado a ser o mesmo
sou eu, dividido em MUITOS outros; sou eu, cogitado a ser o mesmo
sou eu, dividido em MUITOS outros; sou eu, cogitado a ser o mesmo
sou eu, dividido em MUITOS outros; sou eu, cogitado a ser o mesmo
sou eu, dividido em MUITOS outros; sou eu, cogitado a ser o mesmo
sou eu, dividido em MUITOS outros; sou eu, cogitado a ser o mesmo
sou eu, dividido em MUITOS outros; sou eu, cogitado a ser o mesmo
sou eu, dividido em MUITOS outros; sou eu, cogitado a ser o mesmo
sou eu, dividido em MUITOS outros; sou eu, cogitado a ser o mesmo

Pro-fusão em verde

Por Cristian Mossi

Exuber-ânsia

Por Adriano Antunes

Doçura

Por Laila Loddi

A língua - o mundo - a língua do gosto do mundo

Por Cristian Mossi

Nos lábios

Por Adriano Antunes

Eu, agridoce

Por Wolney Fernandes

Há gosto que gosto

Por Cristiano Casado

Gosto QCV

Por Odailso Berté

Doce deleite Arcimbolesco

Por Rosi Martins

Das bandas de cá

Por Laila Loddi

Gosto meu!

Gosto é um híbrido de cachorro acanhado e cavalo sem cabresto. Alguns abanam o rabo, com olhos melados, enquanto se enroscam em nossas pernas, sem chances de escapatória: hábitos, cheiros, sabores, costumes que, se a gente abandona no almoço, à noite parece que o dia foi inexplicavelmente esquisito. Há gostos, especialmente de comidas, que não suportam indagação: que gosto tem a peta, o sagu e o cuscuz? Pergunta ofensiva, independente do tom e da intencionalidade do intrometido.

Não adianta dizer para um goiano que peta tem sabor de isopor lambrecado em banha de porco; muito menos contar para um gaúcho que sagu é algo como bolinhas de cola caseira feita com fécula de mandioca, em cor e calda bordeau; perigoso mesmo é dizer para um nordestino que cuscuz tem cheiro ótimo e gosto de "palha seca"... O gosto dessas e de muitas outras comidinhas está no inacessível e incompartilhável da memória dos afetos e do bem-querer: gosto de casa de vó; gosto de tempero de mãe; cheiro de infância; sabor de antigamente... E por aí vai.

Na redondeza do inacessível também está o gosto da gente por gente. Quando aquele jeito insuportável em qualquer uma não é suficiente para nos afastar de uma pessoa em particular, atenção! Capaz da gente tá gostando da criatura. E quando a gente tem vontade de fazer (ou quando vê até já fez!!!) coisas antes feias, nojentinhas ou proibidíssimas em nosso manual de etiqueta sexual, aí não tem mais dúvida: estamos entregues ao gosto pela pessoa ou, às vezes, só gosto por safadezas mesmo.

Por Walderes Brito

Raízes

Por Laila Loddi

Entre “diariamente” e “batatinha quando nasce”

Para elegância garantida: preto!
Feijão de cariocas e fluminenses: preto!
Ford dos primeiros tempos: preto!
Ouro de levantes Gerais: preto!

Gato de encantamentos: preto!
Galo de encruzilhadas: preto!
Fora dentes e olhos, leopardo: preto!
O sim ou não da zebra: preto!

Gil para dona Cano:
O Preto que Caetano gosta.
Síntese de todos os pigmentos,
oco de toda luz.
ébano, negro, retinto, preto!

Por Walderes Brito

PB

Por Odailso Berté

Nyx, a noite

Por Rosi Martins

Preto de Perto

"No bigode preto da pele branca
O leite branco da teta preta."

Por Adriano Antunes

Pretografias Íntimas



Por Wolney Fernandes

Para infindar meus avessos

Por Cristian Mossi

O Crime do Monarca

Nenhuma faixa ou placa de aviso indicava o reino desconhecido no fim do túnel. Lá, tudo era quase nada; era ínfimo porque havia ainda resquícios do silêncio e som. Um não suportava a presença do outro. Ora, denunciavam-se os ruídos de sobrevivência; ora, o dedo indicador imperava transversalmente sobre os lábios da inexistência: calavam-se todos os rumores...

Às 27 primaveras de andança, a Policromia resolveu desbravar o lugar de ninguém, como se fosse sua solitária cruzada para catequizar a própria alma, refletora de si mesma – uma espécie de retiro à parte de um mundo de enlaces descartáveis. Entretanto, ela não poderia imaginar que o Preto teve igual ideia, mas com propósitos particulares de fuga dos holofotes ameaçadores de sua identidade ausente.

Assim, estabelecia o encontro inusitado de quem é de sinérgica consciência sobre cada nuança da vida com aquele que, de má fama e timidez, tomava a coroa e sentava ao trono na ausência de tons, quando a retina ociosa abdicava a monarquia.

O tempo já denunciava necessidade de ajustes no império dualista. O Preto não queria ver as cores quentes na primeira manifestação de cálidas insatisfações que a Policromia se queixava, aproveitando o protagonista silêncio das horas em que os rumores estavam a léguas da terra nativa. No entanto regressaram, porque já havia boatos, a intuir a possibilidade de desafeto em território aquém dos movimentos essenciais de vida.

O Preto resolve – fugitivo de ruídos – ausentar-se.

A Policromia resolve – combatente a silêncios – capturar presença.

Aquele dia não poderia deixar de ser um marco para a união de sentidos. Não havia ninguém para presenciar a ausência de cores (Preto) e o lamento da Policromia, que unida ao som, desesperada por alguma notícia, clamava ao partícipe de uma fuga:

- O dia, com todas as cores, seria alegria, seria perfeito, se não faltasse o Preto!

Mas parece que o partícipe cumpriu seu sentido no crime: permanecer calado, sob a lei do silêncio.

A Policromia desde ali viveu à paisana.


Por Cristiano Casado

Quinquilharias de delícias

Por Rosi Martins

Pela manhã

Por Cristian Mossi

Verticalidade

Por Wolney Fernandes

purificAÇÃO

Por Laila Loddi

"Eu, filho do carbono e do amoníaco" *

Primeiro era um ponto branco, na amídala esquerda... Tenho certeza, porque minhas encrencas de saúde são sempre do lado direito (até as infecções de garganta). Um tantinho de água a mais, mel, frauda no pescoço na hora de dormir (um espetáculo com o meu pijama azul de decote em "V"!!!). Achei que não passarai disso. Ledo engano: o ponto branco se multiplicou por três; o branco evoluiu para dourado; mais dois dias e a voz sumiu, enquanto uma torneira de pus foi aberta mais ou menos na altura do terceiro olho, com canalização direta para as narinas e, se deitado, com desvio para a goela e estômago. Mais um pouco e a febre pontualíssima, de meio-dia para a tarde, fritava o pus que era expulso do nariz, a partir de então, em tamanho e ares de panqueca. Tudo isso antes de começar a tosse, daquelas miúdas, sem catarro e sem trégua. Tosse de cachorro, das que matam de raiva e de sono. Sim, porque você é obrigado a virar a noite sentado na cama, brincando de "estátua". Nesse embalo pensei muito, mas nada consegui escrever sobre impureza.

Por Walderes Brito

(*) Do poema de Augusto dos Anjos

Desta Água Nunca Beberei?



Por Cristiano Casado

Homemssexual

Por Odailso Berté

Mácula

Mesa de bar.
Uma vida que escorregou dos trilhos.
Ele estabelecia prioridades apontadas em um bloco de notas que chegava ao fim.
Muito das notações ali contidas nunca chegariam à realidade.
Talvez aquela folha em branco preenchida com esforço seria esquecida, como as outras tantas; ou talvez não.
Um cigarro, um café e milhares de pensamentos.
Helena surgiu deslizando em passos mudos e olhar inquieto, duvidoso.
Ao se aproximar, educada, interrompeu as confusas anotações questionando se ele, por acaso, seria Carlos, um amigo querido que há muitos anos não via e de quem sentia saudades.
Queria um abraço antes de partir.
Ele, com olhos pálidos, fez com a cabeça que não.
Mesmo depois da insistência da jovem continuou afirmando que se tratava de Rodrigo e que não sabia quem seria este tal Carlos.
Ela, decepcionada, olhava para o moço com a certeza de ver Carlos. Reconhecia o riso, os gestos, o movimento sincronizado das sobrancelhas e o velho cacoete de estalar os dedos.
Poderia jurar.
Ele desculpava-se incessantemente, mas negava ser quem ela esperava rever.
Helena, em pé, ele nem ousou levantar-se, enumerou amigos em comum, situações vividas juntos, antigos ambientes de trabalho.
Ele, irredutível, negou conhecimento.
Helena tinha certeza absoluta.
Não estava tão louca a ponto de não reconhecer um amigo íntimo.
Mas o que não compreendia era o porquê de ele insistir em não reconhecê-la.
Por que fazia aquilo com ela, logo ela que o gostava tanto?
Os olhos dele suplicaram pela partida de Helena, mas sua postura de gelo, estática e fria, expulsou-a ferozmente.
Então, com olhos marejados, Helena disse que provavelmente havia se enganado, que queria apenas dar um abraço no amigo querido antes de partir e que estava impressionada com a inacreditável semelhança entre os dois.
Tentou insinuar que ele estava mentindo, brincando, em um sorriso nervoso de esperança.
Mas ele negou pela terceira vez antes de ela se ir.
Helena, transtornada, segurou nervosa sua bolsa e virou-lhe as costas, partindo de cabeça baixa porta a fora, essa, a única a escutar seus soluços.
Carlos respirou fundo, suas mãos trêmulas tocaram o copo de água que refletia dedos distorcidos, tentáculos enegrecidos.
Um peso gigantesco comprimiu seu peito.
Percorreu estranho formigamento em suas veias.
Não respondeu ao chamado da garçonete que tentava atrair sua atenção para a porção de pães de queijo que demoraram além da conta, mas que vieram com bônus de três, cortesia da casa.
Carlos sentiu ânsia.
Ânsia de correr atrás de Helena e dizer que foi apenas uma brincadeira de mau gosto.
Ânsia de tirar aquele sentimento de perversidade de dentro de si.
Ânsia de vômito pelo que havia feito.
Uma estúpida tentativa de provar a si mesmo que poderia manipular; dissimular, ferir e não sentir culpa.
Foi destroçado em sua estrutura demasiado frágil para aguentar as consequências de tais atos.
Sabia que não mais a veria.
Torturava-se a imaginar que Helena sofria questionando sua amizade, sua integridade,
sua sinceridade.
Partiu partido.
Certo de que jamais seria o mesmo.
Mesmo que tentasse consertar tudo, permaneceria para sempre (...)
Impuro (...)
E Helena não o defenderia se um dia precisasse.
Por certo não.
(.)

Por Adriano Antunes